Quinze Andares


Sentado na janela, ele observava. Milhares de pessoas, correndo como formigas atrás de trabalho. Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Enquanto todos corriam, ele ficava lá, no alto, observando. A noite chegava e o sol já ia se deitar. Daquela janela, a vista era magnífica. Ver aquele sol alaranjado, se escondendo, tímido, com medo dos perigos da noite. Enquanto ele observava, ela dormia. Dormia como um anjo caído, sem força, sem energia, mas ainda tão bela. Ele a amava e sabia que não deveria ter acontecido assim. Podiam viver mais alguns anos. Uns 10, 20, 50, eternamente se possível. Mas ela tinha que partir. Lá embaixo, no térreo, os homens chegavam. Aquelas luzes eram únicas. Enquanto isso, ele continuava observando, e ela dormia. Decidiu se preparar. Tinha falhado no amor eterno, então iria fazer as malas e se despedir. Foi até o quarto onde ela dormia, tão linda. Beijou-lhe a testa e acariciou o seu rosto. Era a obra divina na Terra. Já ouvia os “silenciosos” passos deles. Subiu mais uma vez no seu posto de observação. Encarou o seu sonho, o seu desejo, a sua paixão. Virou para a porta e esperou. Calado. Era o fim da sinfonia e devia estar atento ao grand finale. Ao primeiro passo que eles deram no apartamento, ele voou. Voou e sorriu da desgraça alheia. Iria se unir a ela mais uma vez. Iria se unir aos seus, pois o bom filho a casa torna.

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