Ela estava no ponto de sempre, só a espera do “Don Juan” da noite. Torcia para não aparecer algum maluco, como o da noite anterior. Sentiu pena de ter matado o desgraçado, mas foi preciso. Podia até ser carinhoso, mas era louco. Queria casar-se com ela, uma ninguém na vida dele. Pelo menos tinha levado um bom trocado, afinal, tinha uma irmã pra sustentar. Não que a irmã fosse santa também. Naquela família, só os bebês eram puros, e olhe lá. Às vezes nem eles se salvavam.
Que bosta de família decidiu nascer. Pai bêbado, ladrão, cafetão da própria mulher e das próprias filhas. Fazia dinheiro sem nem ao menos trabalhar. Que bosta de lugar decidiu nascer. Uma favela de uma cidade decadente. Os prédios mais “conservados” ainda tinham paredes para se pichar. Que vidinha medíocre era aquela que escolhera. Ter fugido de casa com a irmã mais nova fora uma tremenda burrice. Agora estava sozinha no sustento do “lar”. A pobre da irmã até tentava ganhar uns trocados vendendo bala em sinaleiras e ônibus, mas nada que ajudasse muito. Ela é que trazia o dinheiro para as duas. Matando um aqui, outro ali. Satisfazendo outro lá, broxando um acolá. “Essas coisas são da vida, acontecem”, vivia respondendo aos fracos. Sua única animação era poder satisfazer certos prazeres diariamente. Podia ferrar com uns clientes. Chantagear, roubar o telefone dele, ameaçando ligar para a esposa. Podia até matar, se necessário. Não podia reclamar de tédio desta vida miserável.
Se bem que, havia uma coisa que a entediava: era essa espera todas as noites. Não suportava esperar até a madrugada para ter que pegar os playboys baladeiros. “Ô raça desgraçada”, reclamava. Eram ricos, bêbados e burros. Mas eram metidos a macho. Volta e meia queriam um envolvimento mais selvagem. Sorte que quase sempre estavam tão bebaços que mal podia se despir. Assim só os enrolava até pegarem no sono, e levava a carteira embora.
Funcionava, afinal. Não era uma vida correta, nem ao menos bela. Mas era uma vida a ser vivida, e com muito prazer ela era executada.
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