Viva!

Já devem ter percebido que eu não sou o tipo de cara que conversa muito com os leitores. Na verdade, às vezes em que me referi diretamente a eles (ou vocês), podem ser contadas em uma mão. Devido aos acontecimentos da atualidade, realizei algo inacreditável.
Sete dos meus 17 anos, passei em um colégio específico. No primeiro dia de aula, pensei que aquilo seria extremamente ruim. Era uma metodologia muito diferente da qual eu estava acostumado. As freiras tinham fama de serem amigáveis, pacificas, amorosas. O exército, de fora, parecia ser algo árduo de se sobreviver. Mas também, eu era somente uma criança. Não conhecia nada da vida.
Ao final daquele um sétimo, estava me acostumando àquela vida. Entendia o básico sobre o sistema de ensino militar. Era algo tão básico quanto o necessário para sobreviver lá. Fiz amigos incríveis lá dentro, alguns desde o primeiro ano, outros somente a partir do 4º. Ao momento, percebi que nada disso interessava. Não me importava quem eram, desde quando os conhecia ou o quanto os conhecia. Só importava que eles estavam ali, ao meu lado. Ao longo destes sete anos naquele Casarão, aprendi sobre tantas coisas, em torno de tantos assuntos, que mal posso esquematizar o que sei agora. Tudo que me foi ensinado, devo não somente aos professores (os quais levarei comigo para o resto da vida), mas também às pessoas próximas. Tanto os amigos, os colegas, quanto os monitores, oficiais, civis.
Este Casarão, ao qual devo toda minha vida, não é somente um colégio qualquer. Não ensina só as matérias necessárias para se passar no vestibular. Ele é muito mais que isso. Ele ensina as melhores coisas da vida, e as mais necessárias. Ensina-te a pensar, a respeitar, a compreender o espaço ao seu redor. Te ensina que a vida é muito mais do que trabalho-dinheiro-envelhecer. Te ensina que entre o trabalho e o dinheiro, existem o amor, a felicidade, a família, os amigos. Te ensina também que a vida não é feita dos grandes feitos, mas sim, dos pequenos acontecimentos, alguns cotidianos.
Aprendemos a viver lá dentro. Descobrimos que a vida é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, que se fazem necessários. Não me importa ter ganho tal campeonato, me importa o que eu senti disputando da primeira partida até a última. Não guardo rancor de ter que obedecer a certas regras que não entendia, mas guardo memórias. Memórias de um mundo que era tão novo sete anos atrás, e agora, por incrível que pareça, está mais novo ainda. Não lembro dos detalhes do meu primeiro dia de aula, mas com toda a certeza vou lembrar desse último. Esse dia no qual houve um tributo à vida. Uma homenagem linda. Um ritual de amizade e amor. Mesmo sendo um ponto triste da vida, a morte de uma fase, temos que lembrar que essa morte viria. Devemos lembrar que essa morte era necessária, e estava prevista. Lembrar que essa morte foi o sacrifício mais honrado de todos. Sabíamos que ao adentrar aquela vida, teríamos de sair. Iríamos para a faculdade, para alguma outra escola militar, para onde nosso destino mandasse. Iríamos para deixar espaço para outras crianças poderem sentir o gosto. Este gosto de aprendizado, de amor, de vida. Gosto que gostamos de sentir. Gosto que parece amargo no início, mas no fim desce suave e docemente.
Deste ponto em diante temos mais um objetivo na vida, e não é o de crescer profissionalmente, mas sim, de nunca nos esquecermos destes belíssimos sete anos vividos no Velho Casarão. Os melhores sete anos que tivemos. Os melhores sete anos da minha vida...

2 comentários:

  1. Engraçado, eu tô quase chorando... Foi MUITO foda compartilhar esses sete anos com todos os que estavam lá, e eu tenho certeza que esses ínfimos sete anos vão ficar marcados como a fase mais incrível, mais cheia de aprendizado da minha vida. A melhor parte de tudo isso é saber que tem mais umas cento e cinquenta pessoas(menos uns retardados) que pensam exatamente como nós, que nos emocionamos ao ler isso daqui.

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