"Vai
que é real", "relaxa, é de verdade", "confia, nunca que eu
ia te meter em furada". Ahh caro coração, em quantas frias já me meti por
sua causa? Vive tirando sarro de mim, caçoando, às vezes chega a se exceder e
brinca comigo, com minhas ações, meus pensamentos, com meu navio.
Sorte que
tenho um aliado. Ahh caro cérebro, tu até que tentas consertar os erros do teu
parceiro, mas sei que não é fácil. Tu me alerta: "Não é real",
"cara, é etéreo", "não confia nele, já não é a primeira
vez". Agradeço a ti grande amigo, pois estas sempre lá pra me apoiar, pra
tentar me guiar nessas águas. Sei que não és perfeito e perdôo tuas falhas.
Devíamos nos unir mais, sabe? O vadio ali vem se achando o rei da cocada preta.
Acha que tudo pode. Imagina se ele começa um motim, que zorra ficaria nosso
navio? Provavelmente largado ao mar, seguindo a correnteza, largado à sorte.
Caí...
Aqui
nessa ilha, questiono como tu andas? O coração te trata bem? Será que te
fizeram refém? Mas às vezes me pergunto: será que já pensastes em me trair,
caro cérebro? Já foi tentado a se unir ao coração? Vocês que organizaram esse
motim? Tem certas escolhas que o coração comanda que me espanta a facilidade
com que ele me controla. Até parece que ele não faz sozinho. Não está me
traindo grande companheiro? Perdôo todas as tuas falhas, mas isso é demais para
suportar. Se isso for verdade, estou sozinho, abandonado.
Deram-me
um bote e um remo e me expulsaram do navio. Tenho nada além do que sou e essa
ilha não é das mais agradáveis. Sinto falta dos meus conselheiros, sinto falta
principalmente de sua razão, cérebro. Tinhas que me trair? Não podia vir comigo
ou tentar suicídio?
Estou
fraco, mental e fisicamente...
Às vezes
eu a vejo. Deve ser delírio por causa do calor e do cheiro do mar. Mas parece
tão real. Mais bela que nunca. Mais madura do que nunca. Mais misteriosa que o
Universo. Mesmo em delírio, não consigo decifrar seus segredos, seus desejos.
Até nos meus sonhos, não posso controlá-la, pelo contrário, ela é que manda em
mim. Ela está lá, no meio da multidão. Encara-me por um
milésimo de segundo que mais parece um milênio. Depois desvia o olhar, e num
passe de mágica, tudo desmorona e eu me acabo em dor e sofrimento.
Ahh seus
vadios, tinham que me abandonar, me trair? Onde está a força? A coragem? A
energia que nos move? Será que tudo o que vivemos e aprendemos foi em vão? Ou
será que isso é só um teste? Vocês querem me testar pra saber como me saio
sozinho? Se ao final desse sofrimento todo vocês me buscarem nessa ilha,
saberei finalmente. O mais decepcionante dessas cartas ao mar, é que não temos
certeza se elas são recebidas.
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