Antes de correr atrás de tudo que sempre sonhei, decidi buscar o que mais desejava. O amor dela, ainda que fosse confuso para mim, era algo muito importante. Precisava vê-la, abraçá-la. Precisava ter certeza de tudo, ou certeza de nada. Não sabia ao certo o que queria (outro defeito que eu odiava), mas sabia que queria ter certeza do que esperar. Não queria me arrepender, embora soubesse que iria mais tarde. Já tinha tentado de quase tudo, mas aproximar-me dela era o mais difícil. Me sentia angustiado com isso. Um fisgão na barriga. Uma falta de ar. Dor no coração. Cabeça confusa. Desligamento total do mundo. "Adeus realidade, olá sonhos..."
Sabia que era o trabalho mais improvável de realizar, mas sentia que já era tarde. Tarde para voltar atrás, para desistir. Tarde para deixar tudo para depois. Já adiava isso demais. Estava na hora de concretizar o meu maior desejo, e seria hoje. Ou hoje, ou nunca mais
Quem dera, caros leitores, que tudo o que quiséssemos se tornasse realidade. Na verdade, ainda bem que a vida não assim. Caso contrário, essa anarquia desenfrearia ainda mais. Deve ser um tipo de rédea que a vida gosta de manter. Bem faz ela.
Chegamos ao shopping. Por azar (ou sorte, dependendo do jeito que o entender), o filme só começava às 15:30. Eram 14:00. Também por azar (ou sorte), o resto do pessoal não havia chegado ainda, incluindo ela. Nós, os únicos três, fomos então passear um pouco. Vimos algumas lojas. Compramos algumas coisas. Enquanto voltávamos ao cinema, avistei aquele grupo. Na verdade, a primeira coisa que eu vi não foi o grupo em si, mas um fato que me marcou muito. Ela realmente estava lá, fato que até não assustou tanto. Ela estava acompanhada, fato que me aterrorizou por dentro. Aquilo tinha me atingido como um tijolo de ouro revestido em limão caindo em meu cérebro. Demorou um tanto até os outros dois amigos avistarem o grupo. Demorou um pouco até eu voltar à realidade. Em meio a esse novo problema, não tinha nem percebido a falta do amigo o qual fora buscar.
Demos vários “olá”. Nos abraçamos. Beijamos. Alguns se conheceram pela primeira vez. Ela, aparentemente não se abalou. Talvez um pouco internamente, mas por fora estava normal, somente pelo fato de estar me ignorado.
Saímos a passear então. Aquele grupo relativamente grande, de oito pessoas, à frente. Eu e o mesmo colega que me dera a noticia. Eu estava terrivelmente cabisbaixo e visivelmente abalado. Ele percebeu este fato.
- Desculpa cara. Não sabia que isso iria acontecer.
- Tudo bem – Eu dizia, abaixando a voz em tom de luto - tudo bem...
Fomos ao cinema. Compramos os ingressos. Fomos comprar nossas respectivas pipocas. Quer dizer, foram, eu não tinha fome. Em fato, tinha asco. Não conseguia olhar para frente, principalmente para aonde os dois estavam. As poucas vezes que conseguia levantar a cabeça, via os dois, ela perto dele. Não estavam se agarrando, ou em uma preliminar comum à vida sexual. Mas tinham um ar de casal. Um ar que eu temia. Não queria acreditar naquilo.
Ocupamos nossos devidos lugares ao cinema. Eu numa ponta da grande fila, os pombinhos na outra. Isso por um lado foi bom e por outro foi péssimo. Bom, pois assim eu não veria nada que pudesse ocorrer (e como ocorreu). Péssimo pelo mesmo motivo. Era um maldito de um filme de terror. Ela ficaria assustada, provavelmente. Só de imaginar quem ela iria abraçar e a probabilidade de isso ocorrer, me levava a pensar o que viria depois. E depois, e depois, depois...
Terminado o filme, saímos. Todos aterrorizados com o filme. Eu, com o que estava acontecendo. Estava me sentindo péssimo. Derrotado. Desiludido. Frustrado. Passei o filme todo pensando no que fazer. Não cheguei a conclusão nenhuma. Peguei o celular e chequei o horário. “Cacete! Atrasado demais!” Tinha de estar em casa em vinte minutos, e estava a pelo menos uma hora de distância de lá. Tinha de pensar o que fazer. Cheguei à temível conclusão que estava com ódio. Irritado, irado, revoltado, estressado e totalmente de saco cheio daquilo. Dei um basta naquela confusão e tomei a, provável, pior decisão da minha vida (até aquele momento). Fui embora do shopping. Estava nervoso sim, e não era com alguém em especial, somente. Era com tudo. Estava nervoso comigo mesmo, com ela, com os fatos do dia, com o momento que ocorria. Imbecil. Desisti de tudo e saí. Idiota. Peguei um dos ônibus e fui para casa. Fracassado.
Só queria agora era embebedar-me em músicas. Esquecer do mundo e da vida. Ir ao show somente. Iria esquecê-la. Algum dia iria. Pensei que demoraria este dia, mas então percebi o quão rápido é o tempo na nossa adolescência
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