Buenas senhores. Já faz algum tempo desde que lhes dirigi a palavra pela última vez, ainda mais para tratar sobre tal assunto. Confesso, a culpa é minha. Não fosse esse espírito retrancado, cheio de receios e temores, eu poderia lhes explicar tudo antes e, com certeza, resolver de maneira mais sensata. Mas o quê na vida faz sentido?
Já se perguntaram o que são as suas vidas? Já se perguntaram quem são vocês? Algumas vez sequer questionaram algo? Se suas respostas foram positivas para algumas de minhas indagações, estou certo que foi a muito tempo. Tanto tempo que já não lembram quando, e se lembram, fizeram questão de esconder. O que quero dizer, senhores, é que anseio minha liberdade. Não, não quero me ver livre de vocês. Quero apenas ser livre para escolher as tantas opções que a vida me dá. Quero apenas ser livre para fazer o que achar correto ou apropriado. Quero apenas ser livre para viver.
O senhores se lembram o que é isso? O que é "viver"? Tenho certeza que dirão que é se formar, ter um emprego, se sustentar, formar família, ter estabilidade e morrer "feliz". Sei disso pois é o que os senhores estão tentando me forçar a seguir, a acreditar. Mas, desculpe se isso pode magoar vocês, não é exatamente dessa forma que desejo "viver" para ser "feliz". Os senhores detestam quando entro nessas discussões filosóficas e lógicas, mas agora é um mal necessário. O que realmente é viver? O que exatamente é ser feliz? No meu ponto-de-vista (até onde sei, é somente ele que me interessa) viver é amar. Os senhores podem achar infantil ou juvenil de minha parte, mas a verdade é essa.Talvez já tenham esquecido disso, ou pior, enterrado em um lugar profundo dentro das suas almas, só para não encarar este fato. Mas então o que é amar? Amar não é só amor de casal, embora amar também seja poder viver com sua pessoa amada e vê-la sorrir e ser feliz ao seu lado. Amar é poder ver o sol brilhar em um céu azul. É ver as estrelas a iluminar uma imensidão escura e seu luar. É ouvir aquela música, ler aquele livro, ver aquele filme. É poder fazer o que se quer, escolher o que se deseja, é lutar com as suas próprias mãos e ajudar alguém que precisa e deseja sua ajuda. Amar é a coisa mais simples e bela que podemos fazer de nossa vida, e por ironia do destino, é exatamente o que não fazemos.
Então eu lhes pergunto, senhores, se não queriam que eu escolhesse amar, por que diabos me ensinaram isso? De fato, por que diabos me impedem agora, quando tento fazer tudo de minha maneira? Fui treinado tanto tempo para essa hora, me ensinaram tudo que tinham para ensinar, mas ainda assim não querem me largar? Pra que esse esforço então? Em vão? Por favor senhores, se amar é infantil, parem de me amar. Não sejamos hipócritas. Cada um com seus ideais, suas direções e suas escolhas. Já tenho as minhas e pretendo segui-las, mas lhes suplico para que me deixem seguir em paz. Eu sei o que faço e, mesmo que eu erre, é assim que deve ser a vida. Não aprendemos a andar de bicicleta logo na primeira vez. Temos que cair, que nos machucar, que errar para poder aprender. Se eu errar, que me ajudem a me recuperar. Mas me deixem errar sozinho.
Não, apesar do título, esta não é uma despedida. Não pretendo ir embora e fugir. Pretendo me livrar dessa vida desgraçada que tenho seguido. Essa carta apenas se despede dessa vida onde viver é seguir a tabela. Essa carta apenas dá olá a uma nova vida, onde viver é amar.
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