Ela, sentada na varanda, tomando seu chá da tarde, pensava em como a vida havia se tornado tão sem graça. Nada fazia sentido mais, nada lhe emocionava, nada lhe motivava, nada fazia nada. Tentava achar o algo que lhe faltava, aquela coisa que faria sua vida mudar de pernas pro ar. Mas nada lhe passava pela cabeça...
Todos os dias, ao acordar, pensava em fazer aquele dia especial. Fazer alguma coisa diferente, algo que marcasse aquele dia e o tirasse da rotina. Mas ele estava tão cansado ultimamente, que nada mais lhe animava a sair da cama. Ficou olhando pro teto, depois pro cactus, depois para a parede. Mas nada lhe passava pela cabeça...
Decidiu fazer a única coisa que lhe animava, um pouco: caminhar. Calçou um par de chinelos qualquer, colocou os fones e saiu. Gostava de sentir a brisa, sentir o Sol aquecer a pele, da terra batendo na sola dos pés, de olhar para o chão e andar, mais nada. Aquela sensação de liberdade o tirava da realidade, o fazia esquecer dos problemas, das preocupações, do vazio da rotina. Queria um dia atravessar a cidade andando. Queria conhecer seus limites. Queria se conhecer, saber o que queria da vida. Saber o que a Vida queria dele. Mas essas respostas não se encontravam ali.
Sua xícara já estava vazia, mas não se importava. Segurava-a como se fosse parte dela mesma. O dia estava ensolarado, mas na sombra da sua varanda, a brisa lhe refrescava. Sentia o vento bater nos seus cabelos ruivos, como se levassem embora o medo, a solidão e a dor. Naqueles momentos gostava de fazer nada, só ficar parada, olhando para a calçada, vendo passar as crianças, os cães, os gatos, os homens. Tinha esperança de ali encontrar sua outra metade. O Yin do seu Yang. A cara da sua coroa. O lado B do seu lado A. Mas essas respostas não se encontravam ali.
Essas respostas estavam do outro lado da rua. Se ele ao menos olhasse para a direita, a veria lá, sentada, procurando o que estava com ele. Se ela ao menos olhasse para a frente, o veria, na outra calçada, a procurar no chão o que estava com ela. Se ao menos pudéssemos ver o que procuramos, saberíamos onde encontrar... Se ao menos eu te visse... Se ao menos você me visse...
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